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Já ouvi muita gente afirmar: “se ele (ou ela) me ama tem que me aceitar do jeito que sou”. Confesso que sempre achei essa convicção temerária.
Pessoas que se impõem assim, e não estão dispostas a mudar nada em seus comportamentos, preferências, amizades ou rotinas, fazem dessa constatação um ponto final, e não um ponto de partida para uma relação. Elas encerram qualquer possibilidade de diálogo. Parecem considerar-se intocáveis e agem como se fossem perfeitas, restando ao outro aceitar, se quiser continuar ou manter um relacionamento.
Mas acreditar que se alguém nos ama nos deve aceitar na íntegra, também pressupõe que aceitemos o outro exatamente como ele é. Se formos irretocáveis, o outro também deverá ser, porque a aceitação é uma via de mão dupla.
Porém, é necessário lembrar que somos obras em construção. Ninguém é perfeito. Precisamos melhorar, — isso é evolução, amadurecimento, e trata-se de um processo contínuo. A nossa missão aqui, na terra, é a de aprender e evoluir até ao fim de nossas vidas.
Numa relação (qualquer que seja essa relação) é essencial que os dois evoluam. E há uma diferença substancial entre tentar mudar o outro e ajudá-lo a crescer. A fronteira entre esses dois conceitos é tão tênue, tão esbatida, que, por vezes, se torna difícil distingui-los.
Querer mudar o outro é um ato egoísta, de imposição. É dizer-lhe como se deve comportar, o que vestir ou fazer, como falar, que amigos ter, que lugares frequentar, quais hobbies cultivar. É tentar ajustar o outro aos nossos desejos, moldando o seu comportamento como se molda uma estátua em argila. E acreditar que se pode mudar o outro significa, tacitamente, que devemos concordar que ele também nos queira mudar.
Fazer o outro crescer é algo diferente: é uma troca, um diálogo. É um ato conjunto, em que os dois estão dispostos a ceder, a negociar, a abrir mão de pequenas coisas e a abraçar outras. É o reconhecimento de que a relação funciona como uma dança: é preciso ajustar o passo, conhecer a respiração, procurar o momento certo para os movimentos do corpo, até que tudo se encaixe, em harmonia. Sem pressas e sem violências, porque dançar e crescer são, antes de mais, atos de doçura.
Posições extremas, quando um quer impor a sua vontade (mesmo que seja para dizer que nunca mudará), são sempre posições de conflito, e uma relação deve representar o equilíbrio, — ou deve ser essa busca permanente pelo equilíbrio. Uma relação é uma estrada entre os mundos de dois seres. Uma estrada construída devagar. E é nessa lenta construção que o casal se ajusta, cresce como cipós que se entrelaçam, ou cede como bambus ao vento.
O amor é aceitar o outro e evoluir com o outro.
Não somos seres acabados. Ninguém pode ter a pretensão de ser um pequeno deus que pode redesenhar o outro, mas também, ninguém pode ter a arrogância de acreditar que tudo em si é perfeito e irretocável ao ponto de nada mudar. Somos projetos, seres em evolução. Os caminhos dessa evolução dependem das nossas escolhas, dos nossos companheiros, da nossa humildade perante o futuro, da nossa capacidade de aprendizagem, da nossa inteligência emocional.
O amor perfeito não é o que nos faz acreditar que somos perfeitos, nem é aquele que nos obriga a mudar. O amor perfeito é aquele que nos faz crescer, transformar com o outro, para que nos ajustemos num abraço redondo, sem esquinas.
G. B. Deveraux
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